RSS

Quem é rei nunca perde a majestade!



Nascido em 1908, Angenor de Oliveira – mais conhecido como Cartola, foi apenas mais um moleque que nasceu no estado do Rio de Janeiro (especificamente no Catete), mas que ficou conhecido e se tornou um dos maiores compositores de samba de todos os tempos na história da música popular brasileira.


Tendo uma vida bastante conturbada que envolveu o falecimento da sua mãe quando tinha apenas 17 anos, a briga e logo após o afastamento do seu pai, envolvimento em brigas, falecimento de sua primeira mulher Deolinda, orgias e doenças venéreas, Cartola conseguiu abstrair todo o resto que tinha de bom e aplicar em suas composições, o que sempre resultou em lindíssimas canções, quase todas falando sobre mulheres, amor e Deus, temas esses considerados importantes por ele, disse ele para o Almanaque da Folha:


Gosto de fazer samba de dor de cotovelo, falando de mulher, de amor, de Deus, porque é isso que acho importante e acaba se tornando uma coisa importante”.


Assista à música "Tive Sim", que compôs para a sua segunda mulher, Dona Zica.


Sendo um dos fundadores do Bloco dos Arengueiros – que posteriormente se tornaria a Estação Primeira de Mangueira, cujas cores verde e rosa foram escolhidas por ele – Foi lá que lançou a sua primeira composição chamada “Chega de demanda”, que se tornaria um grande ícone para a escola de samba. Depois dela muitos outros sambas foram premiados em desfiles, o que deu grande evidência a Cartola e atraiu intérpretes que queriam comprar suas composições, tais como Mário Reis, Francisco Alves, e inúmeros outros.


Com a mudança da diretoria da Mangueira antipática a Cartola, se afastou. Além disso, contraiu meningite e teve que andar de muletas durante um ano. A vergonha de sua situação o fez se mudar da Mangueira e ir para Nilópolis, onde começaria a trabalhar como lavador de carros. Para piorar, Deolinda falece nessa época, o que o levou a ter uma vida desregrada, fundada na boemia e malandragem, o que desgastou grande parte de sua forma física.


A revira-volta seria quando Eusébia Silva do Nascimento, a Zica, o encontrou (por meio de algumas aparições públicas conseguidas pelo jornalista Sérgio Porto) em um estado lastimável, entregue à bebida, desdentado e sobrevivendo de biscates e levou-o de volta ao morro da Mangueira. Cuidou dele e acabou se apaixonando e conquistando-o. Daí foram só sucessos que apareceriam, ainda mais depois do surgimento do bar Zicartola, onde eram proporcionados encontros de grandes músicos de samba.


Foi na velhice que seu nome repercutiu e tornou-se uma grande referência para todos os músicos que viriam a surgir daquela época. Com 66 anos, em 1974, ele gravou 4 CDs apenas com novas composições e, entre elas, uma que se tornaria de grande simpatia para com muitos intérpretes, sendo gravada por músicos como Cazuza e Ney Matogrosso, que é “O mundo é um moinho”.


Essa música linda é uma composição que Cartola fez em uma noite que passou acordado, pois soube de um fato que abalou profundamente a sua vida. Ele descobriu que a sua filha estava se prostituindo.


Ele diz na música que a sua filha já anunciou a partida de sua casa sem rumo, que em cada esquina perde um pouco a sua vida e em pouco tempo não será mais o que ela é. Fala que o mundo é um moinho que vai triturar os sonhos mesquinhos dela e reduzir todas as ilusões a pó, e termina falando que em cada amor que ela tiver só se herdará o cinismo e que, quando notar, estará à beira do abismo, um abismo que ela mesma cavou com os próprios pés.


Eu falo com toda sinceridade que comecei a escutar Cartola faz pouco tempo. Entretanto, logo depois que comecei a estudá-lo eu notei que suas letras são como desabafos de sua vida. E o interessante não é isso. O interessante é que ele foi corajoso a ponto de expor seus interesses em suas composições, o que é de grande importância para mim. Além disso, o que me intriga e me faz escutá-lo mais é o fato de que suas letras são totalmente atuais, pois estão falando dos mesmos problemas que temos nos dias de hoje, trazendo inspiração para a produção de novas músicas com o excelente conteúdo apresentado em suas clássicas canções. Cartola, sem dúvida, eternizou seu conteúdo e se eternizou. Ainda bem!




André N. Bueno

0 comentários:

Postar um comentário