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Salto ao novo mundo: a explosão musical do Live Stream.

Foi-se o tempo dos LPs, CDs e K7s e, com ele, o domínio das oligarquias fonográficas. A internet invadiu a realidade musical com seu mundo jovem e magnânimo, dando margem a novos conceitos e construindo um outro sentido para a música.

Se as vendas de álbuns não são mais suficientes para manter a lucratividade musical, todos os esforços voltaram-se, então, para a produção de grandes shows. Tão grande é esse investimento que, hoje, os artistas buscaram na internet um apoio crucial e que se faz do futuro: a interatividade online. Canais na internet são alicerces aos já veteranos websites, pois todo e qualquer veículo digital se torna um importante aliado na reconquista por um espaço tomado pela pirataria (ironicamente impulsionada pela própria internet).

O mais recente exemplo é a explosão do Live Stream. Buscando alcance mundial, os artistas estão transmitindo seus shows ao vivo pela internet de modo a atingir qualquer pessoa com acesso à rede. Buscam a notoriedade e, principalmente, as parcerias com empresas e websites que encontram na audiência dos milhões de usuários uma forma coerente de renda.

A banda U2 transmitiu seu show ao vivo pelo YouTube para milhões de fãs, no último dia 25.

Em alguns casos, a venda de ingressos transgrediu as barreiras geográficas. Não é mais necessário ir à mesma cidade onde será realizado o show uma vez que ele pode vir até você. Basta um ticket online para assistir o show pela internet. Dessa forma, as bandas expandem seu público de forma global, interando-se da rede para sobreviver ao mercado.

Sites como o YouTube, por exemplo, fazem, de sua imensa concentração de usuários, parcerias com os artistas para transmitirem seus shows de graça. Esse atrativo natural gera milhões de acessos pelo mundo, supervalorizando o espaço publicitário da página e revertendo todo o investimento para as partes envolvidas.


As bandas Iron Maiden...

e Foo Fighters, ...

bem como as brasileiras Jota Quest...

e Asa de Águia, são outros exemplos de grupos que já transmitiram shows pela internet.

Essa conduta nada mais é do que o início de um futuro óbvio: a mescla progessiva entre internet e sociedade - no nosso caso, a música. Haverá um momento em que ambas as partes se confundirão em um só conceito (semelhante à idéia televisão x celular x internet, que já estamos presenciando). E, nisso, aquele que não mergulhar de vez sua produção musical na rede mundial de computadores, perderá-se à margem imperceptível da antiga realidade musical, visível apenas à história.

Rodrigo Alcure.

Quem é rei nunca perde a majestade!



Nascido em 1908, Angenor de Oliveira – mais conhecido como Cartola, foi apenas mais um moleque que nasceu no estado do Rio de Janeiro (especificamente no Catete), mas que ficou conhecido e se tornou um dos maiores compositores de samba de todos os tempos na história da música popular brasileira.


Tendo uma vida bastante conturbada que envolveu o falecimento da sua mãe quando tinha apenas 17 anos, a briga e logo após o afastamento do seu pai, envolvimento em brigas, falecimento de sua primeira mulher Deolinda, orgias e doenças venéreas, Cartola conseguiu abstrair todo o resto que tinha de bom e aplicar em suas composições, o que sempre resultou em lindíssimas canções, quase todas falando sobre mulheres, amor e Deus, temas esses considerados importantes por ele, disse ele para o Almanaque da Folha:


Gosto de fazer samba de dor de cotovelo, falando de mulher, de amor, de Deus, porque é isso que acho importante e acaba se tornando uma coisa importante”.


Assista à música "Tive Sim", que compôs para a sua segunda mulher, Dona Zica.


Sendo um dos fundadores do Bloco dos Arengueiros – que posteriormente se tornaria a Estação Primeira de Mangueira, cujas cores verde e rosa foram escolhidas por ele – Foi lá que lançou a sua primeira composição chamada “Chega de demanda”, que se tornaria um grande ícone para a escola de samba. Depois dela muitos outros sambas foram premiados em desfiles, o que deu grande evidência a Cartola e atraiu intérpretes que queriam comprar suas composições, tais como Mário Reis, Francisco Alves, e inúmeros outros.


Com a mudança da diretoria da Mangueira antipática a Cartola, se afastou. Além disso, contraiu meningite e teve que andar de muletas durante um ano. A vergonha de sua situação o fez se mudar da Mangueira e ir para Nilópolis, onde começaria a trabalhar como lavador de carros. Para piorar, Deolinda falece nessa época, o que o levou a ter uma vida desregrada, fundada na boemia e malandragem, o que desgastou grande parte de sua forma física.


A revira-volta seria quando Eusébia Silva do Nascimento, a Zica, o encontrou (por meio de algumas aparições públicas conseguidas pelo jornalista Sérgio Porto) em um estado lastimável, entregue à bebida, desdentado e sobrevivendo de biscates e levou-o de volta ao morro da Mangueira. Cuidou dele e acabou se apaixonando e conquistando-o. Daí foram só sucessos que apareceriam, ainda mais depois do surgimento do bar Zicartola, onde eram proporcionados encontros de grandes músicos de samba.


Foi na velhice que seu nome repercutiu e tornou-se uma grande referência para todos os músicos que viriam a surgir daquela época. Com 66 anos, em 1974, ele gravou 4 CDs apenas com novas composições e, entre elas, uma que se tornaria de grande simpatia para com muitos intérpretes, sendo gravada por músicos como Cazuza e Ney Matogrosso, que é “O mundo é um moinho”.


Essa música linda é uma composição que Cartola fez em uma noite que passou acordado, pois soube de um fato que abalou profundamente a sua vida. Ele descobriu que a sua filha estava se prostituindo.


Ele diz na música que a sua filha já anunciou a partida de sua casa sem rumo, que em cada esquina perde um pouco a sua vida e em pouco tempo não será mais o que ela é. Fala que o mundo é um moinho que vai triturar os sonhos mesquinhos dela e reduzir todas as ilusões a pó, e termina falando que em cada amor que ela tiver só se herdará o cinismo e que, quando notar, estará à beira do abismo, um abismo que ela mesma cavou com os próprios pés.


Eu falo com toda sinceridade que comecei a escutar Cartola faz pouco tempo. Entretanto, logo depois que comecei a estudá-lo eu notei que suas letras são como desabafos de sua vida. E o interessante não é isso. O interessante é que ele foi corajoso a ponto de expor seus interesses em suas composições, o que é de grande importância para mim. Além disso, o que me intriga e me faz escutá-lo mais é o fato de que suas letras são totalmente atuais, pois estão falando dos mesmos problemas que temos nos dias de hoje, trazendo inspiração para a produção de novas músicas com o excelente conteúdo apresentado em suas clássicas canções. Cartola, sem dúvida, eternizou seu conteúdo e se eternizou. Ainda bem!




André N. Bueno

Palavras ao Vento

Eu era ainda muito novo. Voltava caminhando para casa junto com meu primo; estávamos na Star Games jogando DreamCast, e era quase ano novo. Dia levemente frio e chuvoso, exatamente como o dia de hoje. 29/11/2001 e aquele cheiro bom de começo das férias escolares. Algo muito estranho aconteceu no caminho: a vidraça da vitrine de um Sex Shop simplesmente explodiu (a centímetros de nós). Ela se partiu em um bilhão de cacos, e os consumidores da loja (para o meu espanto, uns três homens) ficaram envergonhados ao serem descobertos pelo povo que passava na rua. Até hoje eu me lembro da fantasia de Mamãe Noel exposta ao relento.

Algo mais obscuro ainda estava por vir; foi quando, depois de chegar em casa, me sentei na cadeira e depositei meu copo de café (com leite?) em cima da cama. Estava assistindo a novela das 7h quando o Plantão anunciou a morte da cantora Cássia Eller. Muitos acham que é mentira, mas ela foi a primeira pessoa em quem pensei durante a execução de tão conhecida vinheta. Ouvi um grito que veio lá de cima, da casa da minha mãe. Era um grito que me lembrava o da minha Vó quando a minha Tia-Avó faleceu. Eu não tive coragem de subir as escadas e nem ao menos chorei. Claro que não :P

Infelizmente para muita gente, foi apenas a morte daquela Sapatão que explodiu com "Malandragem" e com o "Segundo Sol". Alguns conhecidos meus não a conheciam. Outros pensavam que o "Acústico MTV" fora o seu primeiro Disco. A verdade é que Cássia morreu quando começa a desfrutar do sucesso que merecia já há anos. Foi muito triste, para mim, ver Ana Carolina colocada acima dela; era uma ofensa. Era cuspir na história da Música (e limpar o cuspe com a história da MPB). Mas isso não vem ao caso.

Desde 1990 a sua carreira foi marcada por altos e baixos excepcionais. Seu primeiro Cd, Cássia Eller, foi aplaudido de pé pela crítica e vendeu mais que 50.000 cópias; um número extremamente satisfatório considerando que era o primeiro disco de uma cantora que não tinha o respaldo dos meios de comunicação. Por enquanto, de Renato Russo, foi considerado pela revista da MTV, em 2002, como a melhor interpretação de Legião Urbana.

Em 1992 veio "O Marginal". Um fracasso, 8000 cópias. Não que fracasso qualitativo esteja diretamente relacionado ao fracasso de vendas. Mas neste caso estava. Mas em 1994, surge a Poesia de Cazuza na vida de Cássia. Seu terceiro disco, "Cássia Eller", foi um dos mais vendidos no ano, com 325.000 cópias. O hit "Malandragem" tocava em média três vezes por dia em cada rádio brasileira.

Desde então, até 1999, foi a letra de Cazuza que guiou sua carreira... Por melhores que fossem as outras interpretações (e eram tão boas quanto), Cássia Eller seria eternamente A platéia pedia, ela xingava, mas no fim cedia e terminava todo santo a menina má que rezava baixo pelos cantos Show com os versos famosos de "Malandragem".

Em 1999, "Malandragem" teve de ceder espaço ao "Segundo Sol" de Nando Reis, que finalmente libertou-a das amarras de Cazuza, e expôs a cantora mineira mais uma vez ao sucesso, com a venda de 120.000 cópias do disco "Com vc o meu mundo fikria completo".


A confirmação do talento de Cássia (por parte do grande público, é claro), veio com a gravação do Acústico MTV, 2001. O Álbum é muito bom do começo ao fim; é leve, a voz rouca de Cássia se encaixava perfeitamente com a ausência de instrumentos elétricos. Além disso, ela mudou o seu comportamento durante a gravação do Show. Parecia uma moça bem comportada: uma Adriana, uma Marina ou uma Marisa. Esse comportamento, aliado à produção esplêndida de Nando Reis (e claro, mais do que tudo, ao talento de Cássia), rendeu mais de 400.000, o prêmio Multishow de melhor Álbum do ano de 2001 e uma turnê pelo Brasil, com mais de 15 shows por mês.

Dinheiro que ela não viveu para receber por completo.
Troféu que ela não viveu para levantar.
Viagens que ela não viveu para viajar.

Bruno Alcantara